segunda-feira, 4 de maio de 2009

Não obstante!

Sem poder me mover,
sequer distinguir feição ou ruído,
incompetente para gritar ou me esquivar...
Perdida em meio a cacos e tocos, pedras e espinhos,
Tão frágil, me desfazia em pedaços de gelo e sangue.

E bem assim, sem desviar o olhar ou o olfato, me quiseste.
Ao contrário, olhos fitos na minha dor, como se só pelo contemplar me curasse, fogo cicatrizante!
Tua alma desejou a minha!
Mãos de veludo, veludo com cheiro de flor
foram me envolvendo, me catando os pedaços, juntando minha repugnância...

Chamaste-me ferida linda, verme precioso...
Jamais compreendi tal apêgo, tal sentimento, tal decisão!

Eu agora, pedaço refeito, remendo acabado, ainda um nada,
posso sentir gosto, consigo ver-te pelo tato.

E fico aqui aninhada, em segredo no teu peito, onde tuas mãos recobrem o meu asco, e teus batimentos dão ritmo aos meus.

Sequer tenho algo pra oferecer... tenho só dejetos e pus!
Mas ainda me chamas querida e amada!

Resta-me apenas um pensamento contrito...
Desejo amar-te mais que tudo!

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