terça-feira, 12 de maio de 2009

Só!


Sozinho...

Você já passou por esta condição? Como rolou?
Sentiu-se desconfortável? Com o quê?
Já parou pra pensar que o conforto ou desconforto numa situação de isolamento talvez não venha diretamente desse ponto? Que não é o isolamento propriamente que é desconfortável ou confortável?
Percebe que o carinha na foto pode sentir-se desconfortável e não é por estar sozinho, mas por onde está?
O conforto é entendido e experimentado pela chave das sensações, dos sentidos.
É por isso que, senso comum, se diz que é "ruim" ficar ou estar sozinho. Pensa-se tal estado como uma sensação. E, invariavelmente, fugimos dela.

Solidão...
Nunca vi alguém falar de solidão como algo positivo, algo benéfico em si. Exceto em momentos de autocomiseração... eheheh... quando uma falsa noção de si mesmo brota e cega.
Quando o estado de isolamento é lido na chave das sensações "ruins" ou do desconforto, é tratado pelo nome solidão.
E é hilário notar que muitas e muitas vezes sentimos solidão mesmo estando cercados por multidão. Que incrível! Até mesmo a solidão é um produto de relação! Não é um isolamento real. Ao contrário, a sensação solidão surge em momentos, por exemplo, de comparação, seja de nossa vida com a vida de outros, seja entre momentos ou estágios diferentes da própria vida em questão.

Pra mim, essa sensação amarga de solidão definitivamente não tem nada a ver com isolamento puro e simples.

Quero, então, propôr um raciocínio: Se o que chamamos por solidão não é meramente o estado de estar só, mas muito mais um sentimento, uma sensação relacional, geralmente "ruim", e que aflora quando estamos sós, o que afinal seria o isolamento simples e quais suas causas ou produtos?

Sim. Existe(m) outro(s) lado(s) nessa história! É possível pensá-lo...
Sobretudo por uma opção didática, gostaria de propor o termo solitude. Já o li algumas vezes exatamente com essa idéia: ser algo diferente de solidão. Assumindo que esta possui aspecto negativo e sugerindo, então, um lado positivo pr'aquele novo termo. Na 'dicionariologia' são estritamente a mesma coisa!

Quando é que um isolamento pode ser positivo, benéfico?

Não é difícil perceber...
Quando é um isolamento planejado, escolhido, decidido!
Na solidão não se quer estar só, não se pediu por ela, no entanto chegou, assoladora. Não é?
Na solitude, o isolamento é escolhido, decidido!

Sentimentos e sensações produzem a solidão, enquanto que a solitude, que surge da razão, produz sentimentos e sensações.

Pergunta que não quer calar: Por que, raios, alguém escolheria estar só?
É difícil responder. Mas não impossível...
Essa pergunta surge porque, de cara, definimos que estar só é ruim. Mas isso não é regra...
Estar só implica longos períodos de silêncio, períodos de observação e, sobretudo, períodos de pensamentos, reflexão... mas não qualquer reflexão!

Costumo dizer que solitude não é para todos, nem para muitos...
Para escolher isolar-se é requerido um mínimo de maturidade emocional, uma boa pitada de coragem pra encarar-se honestamente...

Bom, só com esses dois quesitos já rola uma outra longa discussão, afinal, pra tais posturas a boa saúde emocional que é capaz de julgar-se sem altas ou baixas estimas é imprescindível!!!

Conheço gente (e me reconheço nelas) que se isola por 'n' sentimentos ambíguos, atitudes mesquinhas de falsa reflexão, status de pensador, saca? Uma idéia de grito silencioso. Por dificuldade de expressão busca o isolamento, como se sua solidão fosse 'culpa' dos outros: "Eles é que não me entendem!". Na verdade, é um isolamento que visa pedestais, aprovações, numa louca dinâmica solidão/multidão. Forçam um isolamento que choque os outros, que incomode os outros, a ponto de que alguém faça alguma coisa. Não a própria pessoa.

Lembrei-me de uma garota que conheci, que quando estava mal ficava na dela, mas sempre achava um momento pra chorar em público, pra que alguém perguntasse o que estava acontecendo e o que poderia fazer pra ajudá-la.
Gente com sede de multidão, mas travestida de aparência introspectiva. Infelizmente, é a mesma gente que padece na solidão sem jamais experimentar a solitude.

Olha... pra diminuir tudo aquilo que posso falar aqui, o processo de solitude, do começo ao fim, é pautado por decisões e escolhas! Qualquer espécie de sentimento (ou sentimentalismo) só pode ser fruto dele e não sua causa ou motivação.

Tenho procurado avaliar se meus momentos de "estar só" são produzidos por emoções ou decisões! Esse é exercício muito legal pra botar as engrenagens pra rodar!

Veja, por exemplo, há relacionamentos que dão super errado, e outros que dão super certo, exatamente porque os envolvidos percebem, ou não, essa distinção de estados ou situações.

Há quem vá pensar: "E daí? Pelo menos tô com alguém!!"

Éé... em meus momentos de solidão, concordaria com isso... é uma posição egoísta, que já tive várias vezes, que visa meu bem-estar em detrimento do resto do mundo... ao menos é o que penso.

Nos momentos de solitude enfrento meus bichos sozinha, aprendo lidar com eles. Acredito que me fortaleço sem ter outros por muletas ou capachos. E na ocorrência de qualquer relacionamento que seja (família, amigos, namoro...) não ficarei dependente de ninguém, sequer da minha baixa ou alta estima retroalimentada.
O faquir vê efeitos terapêuticos de sua cama... e ninguém o obrigou a deitar-se... por isso não reclama...
É meio isso...

terça-feira, 5 de maio de 2009

É o que me interessa - Lenine

"Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa


Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o teu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurre em meu ouvido
Só o que me interessa


A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa"

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Não obstante!

Sem poder me mover,
sequer distinguir feição ou ruído,
incompetente para gritar ou me esquivar...
Perdida em meio a cacos e tocos, pedras e espinhos,
Tão frágil, me desfazia em pedaços de gelo e sangue.

E bem assim, sem desviar o olhar ou o olfato, me quiseste.
Ao contrário, olhos fitos na minha dor, como se só pelo contemplar me curasse, fogo cicatrizante!
Tua alma desejou a minha!
Mãos de veludo, veludo com cheiro de flor
foram me envolvendo, me catando os pedaços, juntando minha repugnância...

Chamaste-me ferida linda, verme precioso...
Jamais compreendi tal apêgo, tal sentimento, tal decisão!

Eu agora, pedaço refeito, remendo acabado, ainda um nada,
posso sentir gosto, consigo ver-te pelo tato.

E fico aqui aninhada, em segredo no teu peito, onde tuas mãos recobrem o meu asco, e teus batimentos dão ritmo aos meus.

Sequer tenho algo pra oferecer... tenho só dejetos e pus!
Mas ainda me chamas querida e amada!

Resta-me apenas um pensamento contrito...
Desejo amar-te mais que tudo!